25-05-2015
No vácuo uma pedra e um grão de areia cairão de acordo com uma aceleração constante. Na Terra, sujeitos às contingências de uma atmosfera e de outros factores que determinam o trajecto e o tempo da queda, a pedra e o grão de areia, dotados de densidades díspares e agora sujeitos ao atrito do ar, caindo sempre de acordo com a lei universal da aceleração, chegarão, contudo, ao solo em momentos não coincidentes.
Ora, mesmo para nos mantermos de pé, exige-se-nos muito esforço. Há leis universais que determinam o nosso passo e o nosso equilíbrio. Equilibrarmo-nos nesta Terra pede uma certa acrobacia perante as forças que balançam e contrabalançam continuamente em nós e em nosso redor. Às vezes basta pormos um pé à frente do outro para tudo mudar.
Cada ser humano – dotado de uma densidade própria – enxerga uma paisagem diferente ao cair. A justiça e a liberdade continuam a ser, contudo, o único céu.
Christopher Damien Auretta doutorou-se pela Universidade da Califórnia, Santa Bárbara, EUA. Lecciona na Universidade Nova de Lisboa onde organiza seminários em Pensamento Contemporâneo e na área da Ciência e Literatura, focando, sobretudo, exemplos da representação estética da modernidade técnico-científica. Tem publicado e/ou participado em colóquios debruçando-se sobre a obra de António Gedeão, Fernando Pessoa, Jorge de Sena, Machado de Assis, Primo Levi e Roald Hoffmann, bem como sobre questões relacionadas com a bioarte. Tem traduzido e publicado, em inglês, poesia de Fernando Pessoa e António Gedeão. Publicações recentes incluem Dez Anos in Portugal, Ensaios, Prosa, Poesia; Álvaro de Campos, Autobiografia de uma Odisseia Moderna; Diário de Bordo, Aspectos do Pensamento Contemporâneo; Pequeno vade-mécum ad loca infecta: para docentes, estudantes e outros mártires (=testemunhas) da modernidade cansados mas ainda capazes de uma ténue esperança e Em torno do cinema, Visualizando a modernidade: narrativas e olhares do ecrã, todas publicadas na Colibri.