Resumo
«Retrato do neofascista amante do não pensar – quem não ama o pensar, ama o não pensar. Quem ama o não pensar, ama a morte. Quem ama o não pensar, precipita o caixão. Quem pensa não pensando, trai o mundo. Quem pensa não pensando, acorrenta a vida. Quem não pensa, contraria a vida. Quem vive ao contrário, não vê futuro. Quem mata futuro, quer impor ordem. Quem impõe ordem, arma a mente. Quem arma a mente, não cria futuro: mata o presente. Quem ama assim, odeia o mundo. Quem odeia o mundo, não sabe criar. Quem não cria, é amante do mal.
Quem pensa bem, ama a vida generosa e dura. Quem ama e pensa, crê também na liberdade. Quem crê também na liberdade, sabe também que não vem hoje. Não traz aquilo que sempre faltou. Não transcende a morte (cuja noite são também sendas). A liberdade não vence o mal: reconhece nos só nos intervalos das grades. Liberta nos só à luz da razão. Para quem pensa, a vida é lei e leveza, dor e razão, raiz e dureza. Quem ama e cria, cresce ao ritmo dos céus e ventos. Quem cresce bem, perece na paz do mar mais azul.
O fascista arranca mares e mundos: mata a vida sorridente e dura. Recusa aquilo que a vida traz sempre de braços abertos: abate a vida nas marés do tempo. O fascista afoga a vida que canta.
O fascista sorri também quando fala: sorri generoso e duro. O seu sorriso é da espessura das facas.»
«Como docente, ou melhor, como fazedor de modestas micro-utopias erguidas nas muitas salas de aula ao longo da minha vida profissional, tenho procurado privilegiar em acto e em pensamento a visualização da orla longínqua daquele mundo que nos aguarda e cujos contornos devemos imaginar e, dentro dos nossos possíveis, concretizar, também em acto e em pensamento, nas imediações do presente. Incumbe-nos viver à altura do nosso tempo de modo a respondermos cabalmente às suas numerosas e urgentes solicitações. Incumbe-nos cumprir com a cultura de que somos herdeiros e criadores. Incumbe-nos resistir à barbárie que nos sitia.»